sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Marte 1













As botas de montanha deixam as marcas da minha passagem. Pegada a pegada, o trilho cresce e preenche a terra poeirenta. Já não me lembro de quando comecei a andar, mas as razões que engrenam as minhas pernas ainda estão presentes. Só paro quando esquecer, disse eu na altura, mas agora que as cãibras e as bolhas abrandam o meu passo, começo a pensar se alguma vez isso acontecerá.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Não aqui




















Só parou de olhar quando os olhos dela fixaram os seus. Recuperou do estado de inconsciência em que aquela visão o tinha posto e voltou ao seu mundo racional.
Havia uma explicação para sentir o que sentiu. Estava numa terra que não era a sua, numa cultura que também não era a sua, excitado por aromas desconhecidos, sentia-se livre e capaz de tudo. Mas não era só. Aquela cara familiar despertou nele um vulcão de emoções, sentiu mais que uma paixão momentânea. Já tinha amado aquela mulher e ainda amava. Tinham feito promessas, projectos, tinham planeado uma vida conjunta. O tempo traí-o e levara-o para o canto do mundo onde, longe de rotinas, a essência da vida era-lhe revelada. Absorvia os sentimentos, o estar no mundo, o dia-a-dia dos outros. Tudo fazia sentido, como até aí nunca tinha feito. Naquela cara familiar viu uma segunda oportunidade. Pediu ao tempo para que desta vez não o traí-se.