quarta-feira, junho 06, 2007

Vontade de fugir

.


O surfista é um míudo disfarçado que só outro surfista será capaz de reconhecer, de compreender. Há um lado sobrehumano e inefável nos contornos que unem apaixonados, não por si, mas por uma outra força exterior. Mais que simplesmente do amor pelo mar, falo do amor pelas ondas, a aceitação da espera e a cumplicidade da vertigem. Somos todos criaturas luzidias, reféns do sol numa cidade com demasiados solários. Somos todos doentes assumidos, e a patologia permanece por descobrir. O mar fez-nos assim, e sem que soubéssemos como, voltámos a ser crianças. Voltámos a guardar dentro de nós a empatia e a simplicidade, a doença e o antídoto. O mar é a timidez que apazigua uma omnipresente vontade de fugir.