quinta-feira, junho 30, 2005

Inspiração
















Patagónia, tirada por Vasco Monteiro.


Caminhei durante todo o dia e no dia seguinte. Estrada a direito, poeirenta e sem trânsito. Vento contrário soprando com fúria. Ás vezes ouvia-se um camião, tinha-se a certeza que era um camião e, depois, era o vento.

Bruce Chatwin, "Na Patagónia"

segunda-feira, junho 27, 2005

Costa Rica 3/3

Já debaixo de uma cobertura em chapa, deixo-me embalar pela monotonia sonora da chuva. A chama dada por uma vela insiste em não estar quieta. Com os pés descalços e uns golos na cerveja tentamos vencer um calor tropical.
A mulher que nos recebeu já se retirou e o cheiro do ansiado jantar já nos invade as narinas. Pouco depois, uma travessa de arroz é posta sobre a mesa. Comemos desalmadamente sem reparar que a mulher nos faz companhia. Orgulhosamente via-nos comer como se fossemos seus filhos. Essa noite ela foi a nossa mãe
.

quinta-feira, junho 23, 2005

Costa rica 2/3

A chuva ainda caía mas a trovoada já ía longe. Do lado da estrada uma luz ténue fazia-se notar. Era uma luz de um tom encarniçado, que realçava as sombras. Uma luz que a electricidade não consegue dar. A casa era de madeira escura, tinha um grande alpendre coberto com duas mesas também de madeira. Do telhado caía uma cortina de pingos, que não deixavam ver com clareza um vulto que se preparava para nos receber. Ao sair do carro os pés encheram-se de água e a vida ao poucos voltou ao meu corpo.

quarta-feira, junho 22, 2005

Costa Rica 1/3

Depois de nove horas de viagem a selva parecia não ter fim. Fossem buracos ou rios, o carro não passava dos trinta. Não comiam desde essa manhã, mas era noite e à horas que não viam uma casa. Os relâmpagos mostravam montes e vales de nada. Só selva. Quando achavam que ia ser a última curva, logo aparecia outra e mais um buraco e mais um rio.
A vontade de chegar ao destino e o medo de se perderem, não os deixava dormir embora o cansaço fizesse com que de vez em quando uma cabeça se rendesse no vidro.

Blog sobre histórias quase sempre verídicas, que se passaram quase sempre comigo, quase sempre em viagens.
Entenda-se por viagens algo como ir ao café comprar tabaco.