quinta-feira, outubro 19, 2006

Esquinas















Passo por elas todos as noites. Com as pernas canejas dos saltos que se enterram entre as pedras da calçada, lançam-me um sorriso, um cumprimento ou apenas um olhar de convite. Já as conheço e associo cada cara a cada lugar específico da rua. São as minhas referências, naquelas noites em que o elevado grau de alcoolemia apaga todas as outras referências. Umas já passaram por muito outras ainda agora começaram. As histórias que circulam servem de aviso e de ensinamento.
Debaixo da minha janela oiço assobiar a Deolinda. Assobia com o à-vontade de quem anda nisto à muitos anos. De pernas grossas, braços fortes e uma cara de professora primária possui, segundo quem sabe, o maior peito de Lisboa. Conhecida pelo mau feitio, Deolinda é um exemplo. Conta-se entre as novatas que uma noite, quando um cliente recusou o pagamento, Deolinda o abraçou com tanta força entre os peitos que o desgraçado acabou sufocado. Perdeu clientes é verdade, mas agora todos pagam.